quarta-feira, 13 de julho de 2011

Crítica de Leitor: «Feitiços»

«Feitiços é o segundo volume da tetralogia de Aprylinne Pike sobre o mundo das fadas. Uma série que contradiz tudo aquilo que pensamos saber sobre fadas, elas não só não têm asas mas são plantas, e das quais floresce anualmente uma flor. Nesta sequela de Wings – O Beijo dos Elfos um ano passou desde que a nossa protagonista, Laurel descobriu que era uma fada. Apesar de aceitar completamente quem e o que é, recusa-se a virar costas à vida que sempre conheceu entre os humanos, a vida com os seus pais e amigos. Isto causa alguns problemas em Avalon uma vez que Laurel precisa de aprender o que significa ser uma verdadeira fada.
Uma história envolvente em parte devido à miscelânea de diferentes locais onde a acção decorre, O livro pode ser basicamente dividido em duas partes, a primeira mais centrada para descrições e explicações de todo este universo, a apreensão do mito das fadas, segundo a autora, e a segunda parte mais voltada para a acção e a sucessão de peripécias.
Com a partida de Laurel para Avalon nesse Verão, vislumbramos mais a relação dela com Tamani e as vivências entre ambos antes da memória de Laurel ter sido apagada, bem como toda a história pessoal de Tamani, da família e infância deste.
Em relação ao volume anterior está presente um enriquecimento das descrições do mundo de Avalon, da vida na Academia e da presença das fadas no mundo deste tempos imemoriais (Eva, Sanzang, Scheherazade, Guinevere) bem como de toda mitologia e língua fádicas. A descrição bem rendilhada dos seus múltiplos locais que faz que nos sintamos verdadeiramente transportados até ele, bem como nos dá uma melhor compreensão da hierarquia e das classes de fadas, que também não dos deixa de transmitir um lado sombrio de segregação deste mundo. Algo que a autora parece explanar eximiamente uma vez que apresenta tanto os benefícios como os preconceitos no funcionamento da tal sociedade de castas.
Continua-se neste volume a manter o suspense e tensão das razões pelas quais Laurel foi enviada para viver entre os humanos mencionadas no primeiro volume, mas que continuam a não ser esclarecidas aqui. Todavia conseguimos perceber que ela tem um papel bem mais fulcral na história, até mesmo pela forma que os outros personagens interagem com ela.
Se no primeiro volume a química entre Laurel e David, um adolescente humano era bastante forte, ela quase que se desvanece aqui para dar lugar ao relacionamento entre ela e Tamani, uma fada masculina que fez tremendos sacrifícios pelo seu amor, é levado a um outro nível. Mesmo quando Laurel expressa dúvidas em relação a com quem estar é evidente que o laço que a liga a Tamani é bem mais forte do que com qualquer outra personagem, mas a sua idade e falta de experiência em termos de relações é bem evidente na incapacidade de lidar com a situação, mas no derradeiro capítulo ela toma a decisão entre os dois.
Todos os personagens que nós sabíamos que seriam principais, tendo em vista o volume anterior, mas que apesar de tudo apenas pareciam existir para servir a história de Laurel, aqui são colocados em relevo e ganham uma voz própria no enredo, mostrando com minúcia como os acontecimentos da história estão a atingir a vida de cada um deles. Este livro não só explora as relações entre Laurel, Tamani e David mas também a relação dela com os pais, que têm visões bem diferentes do facto da sua filha ser uma fada, que ambos argumentam e debatem, sendo quaisquer uma das perspectivas bem defendida, realista e ilustrativa da forma como alteram o seu comportamento para com a filha, quer de um modo positivo, quer de um modo negativo, perante alguém que se conhece toda a vida mas de repente muda.
Neste volume é apresentada uma nova personagem, Klea, uma caçadora de Trolls, os inimigos viscerais de Avalon, e em particular de Laurel que continua a ser perseguida por eles. Não nos é dito muito sobre Klea, mas, tendo em vista a forma como a autora trabalha os personagens, podemos imaginar que isso será alterado num dos próximos volumes.
Feitiço é visto como uma obra mais bem elaborada que o volume anterior. Há aspectos diferentes que mantêm a história cativante, diferentes ritmos e com maior introspecção sobre cada um dos personagens, embora toda a história de inimizade e conflito entre as Fadas e os Trolls não seja esclarecida aqui, mas aponta caminhos para os volumes subsequentes.»
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